DEÍFILO GURGEL ADVOGADO, PROFESSOR UNIVERSITÁRIO, ADMINISTRADOR PÚBLICO UNIVERSITÁRIO, ANTROPÓLOGO, FOLCLORISTA, POETA E HISTORIADOR

terça-feira, 30 de março de 2021

DEÍFILO GURGEL

 



Deífilo Gurgel nasceu em 22 de outubro de 1926, em Areia Branca. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Natal, exerceu as funções de diretor do Departamento de Cultura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC), de Natal; diretor de Promoções Culturais da Fundação José Augusto (FJA); professor de Folclore Brasileiro na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Poeta e jornalista, publicou várias obras relacionadas ao folclore, como “Danças Folclóricas do Rio Grande do Norte” (1995, 5ª ed.), “Manual do Boi Calemba” (1985), “João Redondo”, “Teatro de Bonecos do Nordeste” (1986) e “Romanceiro de Alcaçuz” (1993).

Sua trajetória passa por inúmeras atividades culturais, livros publicados, pesquisas sobre o folclore, obras coletivas e participações em antologias. Ganhou diversos prêmios literários e menções honrosas, participou de muitos encontros, seminários, festivais, palestras, entre outras atividades. Um exemplo é a “Comenda do Mérito Centenário Câmara Cascudo”, entregue na Capitania das Artes, em Natal, em 1998.

Aos 40 anos de idade “descobriu” o folclore, passando a dedicar-se integralmente ao tema. Residindo em Natal desde 1944, se aprofundou nas raízes históricas e culturais do povo potiguar, que resultaram em descobertas inéditas como os romanceiros populares, que ainda não tinham sido registrados por qualquer outro pesquisador brasileiro.

Faleceu em Natal-RN, no dia 6 de fevereiro de 2012

DEÍFILO GURGEL

 


Presidiu a Comissão Norte-Rio-Grandense de Folclore e foi professor da disciplina FOLCLORISTA brasileiro , da universidade federal do rio grande do norte , tendo levado um número significativo de alunos para encontros de pesquisa com  CÂMARA CASCUDO, que, na época, era o teórico e pesquisador mais citado em trabalhos científicos e HISTORIOGRÁFICOS  acerca da  cultura popular do Rio Grande do Norte.

BIOGRAFIA

Nascido na cidade litorânea de Areia Branca, o pesquisador, aos 18 anos, mudou-se para Natal para cursar o Colegial. Em 1967, Deífilo Gurgel bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela  Faculdade de Direito de Natal. Tardiamente, ao 44 anos, fascinado com a riqueza da cultura popular de seu estado, iniciou suas pesquisas na área do folclore. Em 1970, o pesquisador foi nomeado Diretor de Cultura do município do Natal. Atuou também como diretor de Promoções Culturais da  Fundação José Augusto (FJA) e presidente da Comissão Norte-Rio-Grandense de Folclore. Quando faleceu, em fevereiro de 2012, estava para lançar a obra Romanceiro Potiguar, que reúne uma série de romances coletados pelo autor entre 1985 e 1995. Para produzir essa obra, o pesquisador debruçou-se, por mais de uma década, sobre romances ibéricos: os que migraram para o Brasil e os que foram criados no país por portugueses e seus descendentes, muitos dos quais, mestiços (mamelucos ou caboclos, mulatos e cafuzos).

Afirmou certa vez Deífilo Gurgel: “Assim como Cascudo, eu acho que a matéria-prima do meu estudo está aqui. Me considero um provinciano incurável”. Em outras entrevistas concedidas a veículos de comunicação de massa e a pesquisadores acadêmicos, Deífilo Gurgel mencionava que foram muito importantes, em seu percurso de estudioso do folclore potiguar, por exemplo, o encontro com o conquista Francisco Antônio Moreira, o Chico Antônio, no município de Pedro Velho, como a descoberta da célebre romanceira Dona Militana, em São Gonçalo do Amarante.

Deífilo Gurgel faleceu  no dia 06 de fevereiro de 2012,  aos 85 anos de idade, por falência de múltiplos órgãos   após dezessete dias de internação no Hospital Papi, em Natal

LIVROS

Poesia

·         Cais da Ausência

·         Os Dias e as Noites

·         7 Sonetos do Rio e Outros Poemas

·         Bens Aventurados os que São Bons

Sobre o folclore potiguar

·         Danças Folclóricas do Rio Grande do Norte

·         João Redondo – Teatro de Bonecos do Nordeste

·         Romanceiro de Alcaçus

·         Manual do Boi Calemba

·         Espaço e Tempo do Folclore Potiguar

Ensaio historiográfico

·         Areia Branca – A Terra e a Gente

FONTE - WIKIPÉDIA


DEÍFILO GURGEL

 


Era um folclorista tão importante quanto Luís da Câmara Cascudo, apesar de sua biografia ser pouco comentada pelos potiguares

 

Falam que Natal é uma terra que não tem história ou cultural. No entanto, importantes folcloristas lutaram para que não só a capital potiguar, mas também todo o Rio Grande do Norte mostrasse o seu valor através dos estudos das nossas tradições. Um deles foi Deífilo Gurgel, esse senhor da foto acima, falecido em 2012, nos deixando uma vasta contribuição  intelectual. Natural de Areia Branca, nascido no ano de 1926, ele veio à Natal para estudar, formou-se em Direito e fixou residência na cidade. Na década de 60, aos 40 anos, começou seus estudos sobre cultura, devido à sua fascinação pelo assunto.

Era um folclorista tão importante quanto Luís da Câmara Cascudo, apesar de sua biografia ser pouco comentada pelos potiguares.

Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ele ensinava a matéria chamada “Folclore Brasileiro”.

Em suas pesquisas se aprofundou nas raízes históricas do povo potiguar, o que resultou em descobertas inéditas, como as de 1985, quando coletou exemplos do romanceiro popular ainda não registrados por qualquer outro pesquisador brasileiro, merecendo menção o “Cavalo Moleque Fogoso”, de Fabião das Queimadas, além de ter descoberto a Dona Militana (matéria para uma futura postagem) e o escultor Xico Santeiro, já falado no BRECHANDO  .

Em 1970 foi nomeado Diretor de Cultura do município do Natal, por João Faustino, que na época era secretário de Educação. A partir daí, o escritor passou a estudar o Folclore . Como poeta, escritor e pesquisador, Deífilo Gurgel atuou também como diretor do Departamento de Cultura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Natal (SMEC), diretor de Promoções Culturais da Fundação José Augusto (FJA) e presidente da Comissão Norte-Rio-Grandense de Folclore.

Por falar em romanceiro, o seu livro “Romanceiro Potiguar” foi lançado após a sua morte.

Sua trajetória passa por inúmeras atividades culturais, livros publicados, pesquisas sobre o folclore, obras coletivas, participações em antologias, ganhou vários prêmios literários e menções honrosas, participou de encontros, seminários, festivais, palestras, entre outras atividades.

Dentre as suas publicações estão “Cais da Ausência” (livro de poemas), “Danças Folclóricas do Rio Grande do Norte”, “João Redondo – Terra de Bonecos do Nordeste”, “Manual do Boi Calemba”, dentre outros.

FONTE BECHANDO

ENTREVISTA C0M DÍFILO GURGEL

 


[ENTREVISTA] DEÍFILO GURGEL, SEUS ALUMBRAMENTOS, SABEDORIAS E RECORDAÇÕES

Não poderia deixar passar o aniversário de nascimento do mestre Deífilo sem a republicação desta grata entrevista que fiz com ele meses antes de sua morte, em 6 de fevereiro de 2012. Talvez a entrevista mais completa que fiz com ele. Mas o encontro que mais gosto se deu em abril de 2009, quando o pegamos em casa, no carro do Diário de Natal, para visitarmos dona Militana, romanceira descoberta por Deífilo e que ainda residia num oiteiro em São Gonçalo do Amarante. Mas a amizade com seu neto, Felipe, que morava vizinho à sua residência no Tirol, me levava sempre ao encontro dele. E foram momentos ímpares que guardo nos porões da alma com muito carinho, como foi também meu único encontro com Oswaldo Lamartine. Algum tempo depois dessa entrevista, ainda fiz outra, filmada, para um documentário sobre sua vida que nunca saiu. Talvez tenha sido a derradeira antes de seu descanso

POR SERGIO VILAR
PUBLICADA EM O POTI

A brisa areiabranquense moldou a personalidade infantil de Deífilo Gurgel. Mas brotou dos serrotes verdejantes de Caraúbas o alumbramento poético adolescente. A sensação de vislumbre diante daquelas elevações e depressões distintas da paisagem plana de Areia Branca permanece mesmo aos 85 anos.

Um dos maiores folcloristas vivos do Brasil gosta da volta ao passado. Recita poesias longas de Ferreira Itajubá, todas elas carregadas de nostalgias. A memória de Deífilo talvez seja tão prodigiosa quanto o seu conhecimento do folclore; tão intensa quanto a sua humildade e frieza quando encara os auspícios da alegria ou as armadilhas da tristeza.

Na sobriedade característica, encara a velhice com alguma indiferença. Força a vitória contra as limitações da idade. O caminhar já se faz difícil. Quando se levanta, comenta: “É preciso equilíbrio. Estou igual aqueles prédios que balançam, mas não caem”. E estabelece metas, sonhos para um futuro nem tão próximo. No alongado dos dias presentes, mantém a companhia do seu maior instante de euforia vivido: a mulher Zoraide. Além da visita constante dos nove filhos.

Mas Deífilo é pai de muitas outras crias. Três delas talvez formem a “santíssima trindade” do folclore potiguar: a romanceira Militana Salustino, o coquista Chico Antônio, e o mamulengueiro Chico Daniel. E se é contra o natural dos acontecimentos o pai ver seus filhos morrerem, este filho legítimo do folclore assiste diariamente a decadência da arte popular, do folclore que o adotou já aos 44 anos. E desde então se tornou seu herdeiro mais legítimo.

MUITO SE FOI DITO A RESPEITO DAS SUAS DESCOBERTAS NO FOLCLORE, SOBRETUDO DE DONA MILITANA, CHICO ANTÔNIO E CHICO DANIEL. QUAL FOI A MAIS GRATIFICANTE?

Sim, dei muito mais entrevista do que mereço. Além desses três, redescobri Fabião das Queimadas e um romance cantado por ele desconhecido até então, chamado Cavalo do Moleque Fogoso. Mas o mais gratificante talvez tenha sido Chico Antônio porque foi uma completa surpresa. Maria José (dona Militana), eu já desconfiava porque tinha entrevistado o pai dela, que me cantou dois romances muito bons. Quando Mário de Andrade escreveu em seu diário a vida de Chico Antônio, cantando côco e bebendo sem parar, pensei que ele fosse se acabar logo, mas morreu com mais de 90 anos. Agora, a figura mais importante para a cultura é Militana.

ROMANCEIRO POTIGUAR – FRUTO DE PESQUISA DE MAIS DE 10 ANOS – SERÁ LANÇADO QUANDO?

Segundo João Faustino me informou (o senador solicitou verba federal para publicação de quatro livros em parceria como a Academia Norte-rio-grandense de Letras) deve ficar pronto entre setembro e outubro. E como disse Mário Andrade em resposta a Manoel Bandeira, que perguntou qual o folclore mais importante que ele viu, o RN, disse ele.

O RN É DETENTOR DE UMA CENA RICA DO FOLCLORE. O SENHOR, UM PESQUISADOR NATO RECONHECIDO NACIONALMENTE. DEÍFILO GURGEL PODE SER CONSIDERADO O MAIOR FOLCLORISTA VIVO?

Um dos maiores. O professor Bráulio Nascimento, da Paraíba, que vive no Rio desde rapazote, e o paulista Américo Pellegrino Filho são muito bons. Bráulio tem pesquisa vastíssima sobre o romanceiro ibérico e nacional. Américo se debruça mais sobre esse folclore mais novo. E tem outros mais.

DOS CERCA DE 200 ROMANCES CATALOGADOS, UNS 100 CHEGARAM AO BRASIL. DESSES, O SENHOR DESCOBRIU UNS 40. QUANTOS O BRÁULIO DESCOBRIU?

De raspão ele toca em quase todos eles, principalmente os romances ligados aos bois.

ESSE LIVRO DO ROMANCEIRO SERÁ O SEU ÚLTIMO?

Penso na segunda edição do meu livro de poemas, acrescentando alguns inéditos. E também a segunda edição do Espaço e Tempo no Folclore Potiguar. De repente pela Fundação José Augusto.

O SENHOR TRABALHOU EM VÁRIAS GESTÕES CULTURAIS. QUAL DELAS PRESTIGIOU MAIS O FOLCLORE?

Quando cheguei, tinha saído Franco Jasielo e entrou Sanderson Negreiros, sem muito interesse pela cultura popular. Depois veio Evaristo Leão, um professor de educação física que não fez p*… nenhuma pelo folclore. Depois, Valério Mesquita: fez alguma coisa, sem muito destaque. Seguido por Paulo Macedo, também sem interesse. Cláudio Emereciano também não. Iaperi talvez tenha sido o melhorzinho. Mas foi João Faustino quem realmente trabalhou pelo folclore.

ATÉ HOJE FALTA CONCRETIZAR O ESPAÇO XICO SANTEIRO…

De uns tempos pra cá, desde aquelas nossas primeiras conversas, pensei no seguinte: esses grupos têm um repertório incrível. Há dez anos, por exemplo, filmei três horas de brincadeiras e cantorias da Chegança. Quem hoje tem saco para ver isso? Não assistem nem mais TV durante esse período. Ninguém entende mais o significado daquilo. Folclore precise de leitura.

ESSE ESPAÇO NÃO SERIA ENTÃO UM LOCAL DE RESISTÊNCIA?

Seria uma boa um espaço assim e um corpo de auxiliares que me ajudassem na revisão disso tudo. Em vez de 27 cantorias da Chegança, por exemplo, cantariam cinco. Em vez da apresentação com 40 figurantes do Fandango, só 20. E um microônibus deslocaria essa gente pelo interior e casas de cultura. Seria uma maneira de manter vivos os grupos, as casas de cultura e o folclore.

E HÁ ALGUNS RESISTENTES…

Chico Daniel foi inegavelmente o maior mamulengueiro, mas o filho dele, Josivan, está aí. Mas é um cara que precisaria ser bem pago para continuar sua arte. Severino Guedes, do Bambelô Asa Branca, no Alecrim, morreu, seus filhos tentaram manter, mas desistiram; seguiram a religião evangélica: um sumidouro para o folclore. Se tivessem recebido incentivos talvez tivessem permanecido. Faz um tempo, vieram dois pernambucanos documentar o Fandango e Chegança de Canguaretama. Isaura (Rosado) me disse que assistiu uma apresentação de um grupo mirim de Fandango em Pernambuco. Só pode ter sido influência desse trabalho feito no Rio Grande do Norte. É questão de planejamento. Mas pra eu pensar tudo só, é de lascar (boceja, quando eram 21h).

E ROTINA: FAZ EXERCÍCIOS?

Faço exercício no quarto mesmo, quando acordo: uns exercícios respiratórios, uma flexões nas pernas, nos braços. Inclusive tenho uma bursite no braço – ô nome feio da p*…, ne? (risos).

E ALIMENTAÇÃO: CONSERVA OS HÁBITOS INTERIORANOS?

Nos tempos de jovem eu fazia compra naquele mercado da Cidade Alta que pegou fogo. Comprava carne de gado, umas costelas com dois dedos de gordura. Eu cortava a gordura, parecia um queijo, aí comia pura. Isso me rendeu uma ponte de safena e duas mamárias. Mas foi há dez anos. Desde então, nunca mais. Hoje como principalmente frutas. Tenho meus 50 e poucos quilos. Mas meu peso nunca passou de 70.

A VELHICE É MESMO A CHAMADA MELHOR IDADE?

Fico admirado de estar vivíssimo com 85 anos. Meu pai morreu com 64 com câncer no pâncreas. Minha mãe morreu com 77 de velhice. E do jeito que estou vivo e estribuchando, vou durar mais um bocado (risos). São raros os da família com mais de 80. Só meu avô paterno, que durou mais de 90 anos, mas era aquela vida no Sertão, né?

QUAIS FORAM OS ESTRESSES?

(Olha para Carlos Gurgel, à frente, e ri) Foi desobediência. Esses danados (os filhos)… eu falava o que era o certo, mas insistiam em desobedecer. Mas cresci e evolui. Cansei de dizer o que é certo e errado. Não vim ao mundo para julgar, mas para tentar compreender meus semelhantes. Convencer o outro de que o melhor é o ABC ou o América é besteira.

SÃO NOVE FILHOS. E A TV?

(Risos) Quando fiz os cinco primeiros, não tinha TV. Todo ano era um. Depois foram de três em três anos. E aí foram mais quatro.

QUAL A MAIOR ALEGRIA NA VIDA?

Sei nem lhe dizer. Sou muito frio, sem muitas expansões pra essas coisas: nem para alegria nem para tristeza. Quando meu pai faleceu, fui ao sepultamento em Mossoró. Os outros filhos choravam, mas eu não sentia vontade. Com minha mãe,também. Mas quando descobri Zoraide pela primeira vez, fiquei emocionado, admirando a beleza dela. As amigas diziam que era a mulher mais bonita da cidade. E eu, um provinciano que veio do oco do mundo, iria conquistar? Mas depois de muito assédio, conquistei a rainha.

E A MAIOR DECEPÇÃO?

Sou um cara que me acomodo muito com os percalços da vida. Mas o meu primeiro emprego veio quando passei em primeiro lugar entre 120 candidatos no concurso público para cargo de datilógrafo no Ipase. O gerente, Jurandir Cerri, viu meu interesse no serviço e fui promovido. Quando Getúlio Vargas foi deposto, o gerente eleito foi Eurico Dutra. Ele esculhambou o Ipase, quando eu já era delegado lá, e me substituiu por um contínuo do partido político dele. Eu nunca tive partido na vida. Aí fiz uma representação direta para o presidente Alcides Carneiro, da Paraíba. A resposta foi dez dias de suspensão. Não contei conversa e pedi demissão depois de oito anos no Ipase. Depois fui ser caixa no Banespa, onde passei 17 anos (nesse período, Deífilo se forma em Direito, em 67). Mas lá também pedi pra sair. Eu era meio doido nessa época. E me vi cinco meses desempregado, casado e com cinco filhos.

FOI QUANDO A CULTURA O SALVOU?

Eu morava em uma casinha humilde em Areia Preta. Estava sentado em um banquinho próximo à Praia da Jangada, conversando com Zoraide sobre a vida, e João Faustino me aparece dizendo que tinha sido nomeado pra secretário de cultura na administração de Ubiratan Galvão e me convidou para ser diretor de promoções culturais, ganhando até mais. Não pensei duas vezes.

QUAL SUA LIGAÇÃO COM A CULTURA E COM JOÃO FAUSTINO?

Edson Maranhão, pai de João Faustino, foi assessor jurídico no Ipase. Era amigo meu. E conheci João ainda menino de calça curta. Ele acompanhou a publicação de meus poemas nos jornais e resolveu me convidar. Minha função na secretaria era promover a cultura erudita e popular, mas me virei totalmente à arte popular, que não tinha praticamente nada a respeito. Cascudo só publicou o primeiro livre sobre folclore em 1949! (Sobre Vaqueiros e Cantadores).

COMO OS TRABALHOS INICIARAM?

Já era 1970. Djalma Maranhão havia sido deportado há oito anos. No governo dele aconteciam grandes festivais de folclore. Nunca me interessei. Quando fui trabalhar com João, a mulher do governador Cortez Pereira, Aída Cortez, resolveu promover uma festa natalina com várias apresentações dos grupos tradicionais dos antigos festejos promovidos por Djalma. E eu fui o encarregado disso. Chamei o senhor Joaquim Caldas Moreira, braço direito de Djalma naquela época, para arregimentar esses grupos. Quando vi a primeira apresentação, do boi de reis de São Gonçalo, veio meu interesse. Me cerquei de uma biografia razoável e me aprofundei no estudo do folclore.

E A LIGAÇÃO COM A POESIA?

Trazemos do berço. Em Areia Branca eram aquelas águas desaguando no oceano: uma paisagem muito plana. Eu já sentia alguns pluridos poéticos, mas pela pouca idade e falta de orientação, não me arrisquei. Quando eu ia de férias à casa do meu avô em Caraúbas, já com10 ou 12 anos, ficava encantado com aquela natureza, aquelas serras. Eu ficava na calçada do meu avô olhando aquilo tudo. E lá não passava automóvel, só carros de boi, jumenteiras. E escrevia meus primeiros poemas: “Da esquina da rua do meu avô/ eu via o trem de carga do Patu/ que passava por trás do sítio de seu Joaquim Amâncio/ lançando na calma tarde sertaneja/ o seu apito longo e dolorido/ e lançava no meu coração doente de menino/ as primeiras sementes de poesia”. Muita coisa da minha poesia, até hoje, são evocações de minha época de menino.

A POESIA VEM DE CARAÚBAS E…

Tem uma frase de poema meu que sintetiza bem isso: “Onde termina o real; onde começa a poesia”. (E cita um poema) Era ali que começava a poesia em mim.

FONTE – PAPO CULTURA

DEÍFILO GURGEL

  Deífilo Gurgel nasceu em 22 de outubro de 1926, em Areia Branca. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de N...